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Resenha: “Isolation”, Kali Uchis

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Kali Uchis poderia facilmente ser uma dessas artistas que passam grande parte da carreira se revezando em diferentes projetos até, inevitavelmente, cair no esquecimento. De Get You, bem-sucedida parceria com Daniel Caesar, ao frequente diálogo com o rapper Tyler The Creator, com quem colaborou na delicada See You Again, a cantora e compositora colombiana passou os últimos cinco anos se revezando em uma sequência de músicas dentro do trabalho de outros artistas. Fragmentos que agora se revelam como parte de um delicado exercício de aprimoramento para o material entregue no primeiro álbum solo da cantora, Isolation (2018, Rinse Records / Virgin EMI).

Guiado pelo profundo desejo de mudança, o registro de 15 faixas não apenas amplia parte do repertório destacado durante o lançamento do EP Por Vida, de 2015, como consolida a estrutura versátil que tanto caracteriza o som proposto por Uchis. Em um intervalo de 46 minutos, tempo de duração da obra, a artista original de Pereira, na Colômbia, parece testar todas as possibilidades dentro de estúdio, costurando diferentes fórmulas instrumentais, ritmos e vozes com leveza e naturalidade.

Da bossa nova na inaugural Body Language, ao soul-funk-futurístico que cresce em Just a Stranger, passando pela mistura de ritmos latinos em Nuestro Planeta, até alcançar o rock eletrônico de In My Dreams, musica que parece resgatada do primeiro álbum de Santigold, cada fragmento de Isolation parece transportar cantora e ouvinte para um novo território. Não se trata de uma obra esquizofrênica, mas um trabalho guiado em essência pela renovação, conceito reforçado até a montagem da derradeira Killer, uma balada soul no melhor estilo Motown.

Parte expressiva desse resultado se reflete diretamente no time de músicos e produtores convidados a trabalhar na produção do registro. São nomes como Thundercat (Body Language), Damon Albarn (In My Dream), aqui representado pelo Gorillaz, e o experiente Two Inch Punch (Dead To Me), artista que já trabalhou com nomes como Jessie Ware e Sam Smith. Surgem ainda novatos do soul/R&B, caso de Steve Lacy (Just a Stranger), a cantora Jorja Smith (Tyrant), além de parceiros de longa data, como Tyler The Creator, Bootsy Collins e os músicos do BADBADNOTGOOD, colaboradores em uma das melhores canções do disco, a climática After The Storm.

Mesmo entregue ao lento desvendar de novas sonoridades, Isolation sustenta nos versos um poderoso elemento de conexão entre as faixas. São poemas apaixonados, canções sufocadas pela saudade e pequenas desilusões amorosas que acabam servindo de base para a construção da identidade poética de Ushis. “Eu vejo você diferente / Andando com outras pessoas / Amigos que não conheço … Você não vê, você está traindo / Eu realmente sei quem você é / Eu sei, você ainda me ama” , canta em Nuestro Planeta, parceria com o conterrâneo Reykon e um fino retrato do lirismo romântico que serve de base para o disco.

Comercial quando próximo de outros exemplares recentes da música negra, como A Seat at the Table (2016), de Solange, obra que flerta com a mesma pluralidade de ritmos e referências, Isolation encontra na fluidez acessível dos versos um poderoso elemento de diálogo com o grande público, lembrando SZA em Ctrl (2017). Trata-se de uma obra comercial e cravejada de hits, mesmo na complexidade dos arranjos e temas instrumentais que vão do jazz ao soul dos anos 1970. Um lento desvendar de ideias e tendências que não apenas apresentam o trabalho de Kali Ushis, como fazem do presente álbum um dos grandes exemplares do novo pop/R&B

 


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