The Album (2020, GOOD / Def Jam) é um acontecimento. Da imagem de capa, declaradamente inspirada pela estética de Grace Jones, passando extenso repertório que se espalha em um intervalo de quase 80 minutos de duração, tudo gira em torno das experiências pessoais, escolhas e referências de Teyana Taylor. Canções que se abrem para a chegada de diferentes produtores, instrumentistas e vozes, mas que em nenhum momento se distanciam do universo particular detalhado pela artista, conceito que vai da introdutória faixa de abertura, com um registro do pedido de casamento e nascimento da primeira filha com o jogador Iman Shumpert, à derradeira We Got Love, bem-sucedido encontro com Ms. Lauryn Hill.
Contraponto ao material entregue no econômico K.T.S.E. (2018), obra que contou com a produção de Kanye West, The Album ganha forma em meio a 23 faixas, mais de 100 colaboradores e diferentes variações instrumentais que vão do neo-soul ao R&B. Conceitualmente, o trabalho se divide em cinco blocos temáticos: Studio A (faixas 1-5): canções de amor; Studio L (faixas 6-10): sexo; Studio B (faixas 11-14): autoaceitação; Studio U (faixas 15-18): vulnerabilidade e Studio M (faixas 19-23): triunfo. Composições que transitam por diferentes fases e vivências da artista, estrutura que reflete a completa entrega de Taylor, mas que talvez custe a impressionar o ouvinte.
Por se tratar de um trabalho organizado em blocos específicos de canções, The Album invariavelmente soa como uma obra redundante, dando voltas em torno de um mesmo universo temático. Exemplo disso acontece principalmente na segunda metade do registro, quando a cantora deixa de lado grande parte das participações para assumir de forma solitária a porção mais intimista do álbum. Se por um lado Taylor revela ao público algumas de suas principais composições, caso da delicada Lose Each Other, por outro, é evidente o desgaste e sensação de cansaço que se apodera do disco, tornando a experiência do ouvinte arrastada em diversos momentos.
Entretanto, até chegar a esse ponto de maior desequilíbrio da obra, Taylor acerta, e muito. Do momento em que tem início, em Come Back Te Me, colaboração com Rick Ross e a a própria filha, Junie, a cantora não apenas preserva, como sutilmente amplia tudo aquilo que havia testado no disco anterior. Da construção das batidas ao uso instrumental das vozes, tudo reflete a força da artista dentro de estúdio. Mesmo a já conhecida Wake Up Love, colaboração com Shumpert, ganha novo significado dentro do disco, conceito que acaba se refletindo em outras músicas previamente apresentadas, caso de How You Want It?, com King Combo, e a provocante Morning, parceria com Kehlani.
De fato, são essas pequenas colaborações e encontros inesperados que definem o que há de mais interessante ao longo do registro. São faixas como Boomin, parceria com Missy Elliott e Future em que Taylor costura passado e presente da música negra de forma particular. Mais à frente, em Shoot It Up, um misto de dor e libertação que se completa pela rima de Big Sean, conceito que acaba se refletindo também em Killaa, com DaVido, e Let’s Build, ao lado de Quavo. Nada que se compare à nostálgica Lowkey, música marcada pelo refinamento dos arranjos e vozes que se completam pela presença de Erykah Badu, como uma homenagem de Taylor ao clássico Baduizm (1997), uma de suas principais referências criativas.
Feito para ser absorvido aos poucos, The Album peca pelo excesso, porém, agrada na maior parte do tempo. É como se a cantora, pela primeira vez, tivesse a possibilidade de desenvolver em estúdio tudo aquilo que vem testando desde o início da carreira. Composições que apontam para a obra de veteranas da música negra, como Janet Jackson e Mary J. Blige, transitam por diferentes ritmos e fórmulas instrumentais, porém, estabelecem no lirismo confessional da artista um importante elemento de aproximação entre as faixas. Um exercício particular que se estende da abertura ao fechamento do disco, mas que em nenhum momento exclui o ouvinte desse processo.
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