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Crítica | Xênia França: “Xenia”

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Conhecida pelo trabalho como integrante do Aláfia e colaboradora frequente de diferentes nomes do rap nacional, como Emicida (Isso Não Pode Se Perder) e Rashid (Laranja Mecânica), Xênia França fez do primeiro álbum em carreira solo a passagem para um mundo de novas possibilidades. Com produção dividida entre Pipo Pegoraro e Lourenço Rebetez, o registro vai do neo-soul (Minha História) ao rock psicodélico (Perfeita Pra Você), do canto ancestral (Preta Yayá) ao R&B (Do Alto) em uma criativa colagem de referências. Canções que costuram passado e presente de forma sempre inventiva, forte, estrutura que se reflete até a faixa de encerramento do disco, Breu, canção que ganha forma em meio a vozes tratadas como instrumentos, ambientações densas e a percussão sempre destacada, componente que orienta a experiência do público e andamento da obra durante toda sua execução.

A principal diferença de França em relação ao trabalho de outras artistas está no forte discurso político e racial que cresce no decorrer do álbum. Canções como Pra Que Me Chamas? (“De vez em quando / Um abre a boca / Sem ser oriundo / Para tomar pra si / O estandarte / Da beleza, a luta e o dom / Com um papo / Tão infundo“), em que canta sobre apropriação cultural e a força da ancestralidade negra, ou mesmo a bem-sucedida adaptação de Respeitem Meus Cabelos, Brancos, música originalmente composta pelo paraibano Chico César. O próprio encontro com a poetisa Roberta Estrela D’Alva, na curtinha Garganta, contribui para esse resultado. Um contraponto abrasivo ao parcial recolhimento explícito em músicas como Destino e Do Alto, proposta que reflete a minúcia da artista durante toda a execução da obra.



Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões mais curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década. Leia a publicação original.


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