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Crítica | Sault: “11”

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Mesmo em um ano bastante movimentado para os integrantes do Sault, o misterioso coletivo britânico reserva algumas surpresas. Depois de se aventurar no repertório de Air (2022), trabalho que resultou em músicas como Solar e Time is Precious, e de regressar com a extensa Angel, com mais de dez minutos de duração, o projeto que tem como principal idealizador o produtor e multi-instrumentista Inflo, que já colaborou com nomes como Little Simz e Adele, revelou ao público outros quatro registros de inéditas. Primeiro dessa série de discos, 11 (2022, Forever Living Originals) mostra o grupo em sua melhor forma.

Sequência ao material entregue em Nine (2021), trabalho que esteve disponível para download gratuito por um intervalo de apenas 99 dias, 11 reune todos os elementos que fizeram do coletivo um dos mais interessantes da cena inglesa. E isso fica bem representado na própria composição de abertura, Glory. Partindo de uma linha de baixo suculenta e destacada, a canção assume diferentes formatações em um intervalo de quase seis minutos. Mesmo o uso dos vocais, intercalando entre o canto e a rima, vozes femininas e masculinas, funciona como uma boa representação do direcionamento adotado pela banda.

Com base nessa vasta tapeçaria instrumental, rítmica e poética, Inflo e seus colaboradores ampliam tudo aquilo que foi apresentado nos registros anteriores da banda. São canções que vão do pop dos anos 1960 ao funk psicodélico da década de 1970 de forma sempre plural, como uma extensão do material entregue em obras como Untitled (Rise) e Untitled (Black Is), ambos de 2020. A principal diferença em relação aos antigos trabalhos do grupo está no caráter acessível do álbum. É como uma simplificação do processo criativo e esforço coletivo em revelar composições capazes de dialogar com uma parcela maior do público.

Exemplo disso pode ser percebido em Higher, quinta faixa do disco. Do momento em que tem início, na colorida base de sintetizadores, passando pelo uso destacado das vozes, cada fragmento da canção parece pensado para atrair a atenção do ouvinte, lembrando as criações de Whitney Houston na segunda metade dos anos 1980. É como um preparativo para o material que chega minutos à frente, em Fight For Love, música que destaca o lirismo acolhedor que há tempos orienta o repertório do coletivo. “Eu sei que os tempos são difíceis / Quando estiver pra baixo, continue olhando para cima“, cresce a letra da composição.

Entretanto, como indicado logo nos minutos iniciais, 11 não é o tipo de trabalho que segue por uma única direção. Sem necessariamente perder o controle da própria obra, Inflo convida o ouvinte a transitar por entre estilos e diferentes propostas criativas de forma sempre atrativa. De essência meditativa, Jack’s Gift não apenas representa o que há de mais versátil no som produzido pelo coletivo inglês, como transporta o som produzido pela banda para um novo e inusitado território. O mesmo acontece em River, música que destaca o tratamento psicodélico que vem sendo incorporado pelo grupo desde os últimos registros.

Dessa forma, consistente com os antigos trabalhos da banda e aberto ao uso de novas possibilidades, 11 mostra que o coletivo britânico ainda tem muito a oferecer. É como um espaço permanentemente aberto ao cruzamento de informações, ritmos e vozes, riqueza que se reflete até os minutos finais do registros, em The Circle. São composições que naturalmente utilizam da produção de Inflo como um necessário componente de amarra, mas que a todo momento transitam por entre estilos e estreitam laços com diferentes movimentos em um claro intuito de promover e celebrar a música negra em toda sua grandeza.

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